Como se faz, história, curiosidades, estilo, modelos... Tudo o que você precisa saber sobre
o grande companheiro de caminhada do homem
Créditos: Vídeo por Bruno Rodrigues
Vídeo
Bruno Rodrigues
Reportagem e texto
Marcelo Ventura
Arte
Fernando Kazuo
Atenção: O vídeo está tocando. Ele possui movimentos e animações.
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Seção: Primeiros passos
Antes que você me acuse, critique ou explore, ande uma milha nos meus
sapatos
Elvis Presley
No corre-corre de toda manhã, ao terminar de se vestir, você calça os sapatos e sai
para matar o seu leão do dia. E nem se dá conta da importância desses calçados para
sua vida, muito menos para a humanidade. Não, não é exagero. Se você valoriza o
mundo hoje como ele é e as várias invenções tecnológicas ao seu redor, saiba que
depois que nossos antepassados se ergueram e passaram a andar, o sapato foi sua
grande invenção – e desde então, seu companheiro de caminhada. Afinal, o homem só
conseguiu fugir de predadores, percorrer grandes distâncias em busca de caça e
alimento e explorar o planeta porque protegeu os pés.
Os sapatos surgiram no período Paleolítico, também conhecido como Pedra Lascada
(veja linha do tempo abaixo), quando o homem passou a criar instrumentos para
ajudá-lo nas tarefas e necessidades cotidianas. Foi nesse momento que ele envolveu
os pés num pedaço de pele de animal para evitar se machucar nos terrenos irregulares
e aquecê-los nos dias mais frios. Ganhou, assim, mais agilidade e autonomia. Item de
sobrevivência para as grandes caminhadas na Pré-História, o calçado, além de ser um
item do vestuário cercado de simbolismos, evoluiu, impulsionou o desenvolvimento da
humanidade e da economia e revolucionou as relações sociais nas mais diversas áreas.
Com o tempo, começou-se a “costurar” os calçados - e a técnica foi se aperfeiçoando.
No Antigo Egito, palha, papiro e fibra de palmeira eram usados como matéria-prima.
Não há comprovação histórica definitiva, mas talvez a distinção de
classes por
intermédio dos sapatos date dessa época: sandálias de faraós e da nobreza eram
adornadas com metais preciosos e se diferenciavam conforme a posição social. Os mais
humildes na hierarquia egípcia usavam materiais simples, cores escuras e costumavam
carregar os calçados nas mãos para usá-los apenas quando fosse realmente preciso.
Ricos e pobres, poderosos e comandados também eram marcados na Grécia por meio dos
sapatos: no famoso teatro grego, os atores costumavam usar calçados com saltos de
tamanhos distintos para destacar a posição e a importância dos personagens. Os
gregos ainda inventaram moda: criaram a diferenciação de pé esquerdo e pé direito,
que ainda demoraria muito para ser adotada pela indústria do futuro.
Da prancheta à linha de produção
Antes de ir para a fábrica, um sapato passa por um longo processo de
desenvolvimento – e nem tudo que foi desenhado e pensado chega realmente às lojas
Na Roma Antiga, as cores dos calçados é que demonstravam quem era quem: cônsules tinham
sapatos brancos; senadores, marrons e presos por quatro fitas pretas de couro. Os
soldados romanos usavam botas de cano curto que descobria os dedos.
Como se vê, o uso social dos sapatos vem de longa data. Mas demorou um pouco para
sapatos virarem itens de moda. Na Idade Média, tanto os calçados de homens como os das
mulheres eram de couro, abertos, e se assemelhavam muito às sapatilhas que conhecemos
hoje. Com o tempo, os homens passaram a calçar botas altas e baixas, fechadas na frente
e no lado. Mas até o fim do período Barroco (século 8), não existia diferença entre
sapatos masculinos e femininos.
Um sapato que fica bem numa pessoa é pequeno para outra. Não existe uma receita
para a vida que sirva para todos
Carl Jung
Dando um belo “salto” na história, desculpem o trocadilho, entre os séculos 14 e 16 os
homens passaram a usar sapatos com salto, principalmente para cavalgar. A numeração dos
calçados também surgiu nesse período. Em 1305, o Rei Eduardo I, da Inglaterra, resolveu
padronizar tudo e determinou que uma polegada considerasse três grãos secos de cevada
alinhados (2,54 centímetros). Os sapateiros ingleses se empolgaram e, pela primeira vez,
começaram a fazer sapatos em tamanho padrão na Europa, usando 1/3 de uma polegada: um
calçado que tivesse 39 grãos de cevada enfileirados seria tamanho 39. Hoje, a indústria
calçadista usa uma unidade métrica chamada de Ponto. O Ponto Francês, usado no Brasil e
na maior parte da Europa, tem 2/3 de um centímetro: 0,666 cm. Nos Estados Unidos usa-se
o Ponto Inglês (0,846 polegada ou 1/3 de uma polegada).
Mas, como dizem as mulheres, vamos subir novamente no salto. Por muito tempo o salto
alto foi de uso exclusivo do homem. Embora utilizado bem antes por alguns grupos, como
açougueiros egípcios com o objetivo de proteger os pés e evitar o contato com a sujeira
ou nobres europeus, que se equilibravam sobre saltos de até 60 centímetros para evitar o
contato com a imundície das ruas naquela época, foi na corte francesa de Luis XIV, no
século 17, que os saltos ganharam destaque. Assim como as perucas e outros itens
luxuosos, passaram a ser elementos da moda masculina. O motivo: o monarca francês era
baixinho (tinha 1,60 metro de altura) e queria parecer mais alto.
COMO SE FAZ UM SAPATO
Visitamos uma fábrica de sapatos em Franca (SP) e mostramos neste vídeo todo
processo de produção. Assista
No reinado seguinte, o salto conquistou o mundo com o rei Luis XV - ele até virou
sinônimo dessa parte do sapato: “salto 15”. A partir daí, já no século 18, os homens
foram abandonando o salto e deixando a ostentação luxuosa dos sapatos para as
mulheres – o que ainda é uma característica nos dias atuais. No começo do século 19
é que os sapatos de homens começaram a se diferenciar dos modelos das mulheres
através de cores, estilo, desenho e tamanho da parte do calcanhar etc. Até 1840, os
sapatos eram feitos artesanalmente e em linha reta, sem diferenciação entre pé
esquerdo e pé direito.
Voltando um pouquinho no tempo: cerca de cinquenta anos antes, em 1790, foi montada
a primeira máquina experimental de costurar sapatos. Os pregos de metal para fixar
as solas só vieram vinte anos depois. Em 1839, os sapatos começaram a ser feitos com
formas de madeira.
A passos largos
Uma pequena cronologia sobre alguns dos principais fatos históricos dos sapatos
masculinos ao longo do tempo
E tudo começou a mudar mesmo com a Revolução Industrial.
Embora o primeiro registro de manufatura de sapatos, com o fornecimento de 4000 pares de
sapatos e 600 botas para o exército inglês tenha ocorrido em 1642, a indústria
calçadista só alçou voo para valer após a Revolução Industrial, 200 anos mais tarde. No
Brasil, os sapatos começaram a se popularizar com a chegada da corte portuguesa, em
1808. O primeiro polo industrial de calçados nacional se instalou
no início do século XX, em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, por causa da
proximidade de matéria-prima (couro) e da presença dos imigrantes.
No decorrer dos anos, o interior de São Paulo tomou para si a relevância na produção de
calçados. Com a expansão do café no Oeste Paulista a partir de 1920 e a estrada de ferro
Mogiana, Franca se tornou a principal cidade produtora de sapatos masculinos do país,
sendo considerada até hoje a “Capital Nacional dos Calçados”. No seu auge, mais de 1000
indústrias de médio e grande porte, de marcas importantes,
se estabeleceram na cidade. Hoje, embora ainda abrigue várias fábricas
importantes de alçados e seus componentes – e tenha um shopping center dedicado
exclusivamente ao
sapato – o parque industrial de Franca ficou mais diversificado e conta com outros
ramos, como confecção, cosméticos e fundição.
Estio aos seus pés
Conheça alguns dos modelos de sapatos que tem conquistado os homens por toda
parte
Contém um slideshow de imagens, nave pelos botões de seta ou com as teclas
direcionais do teclad.
Com a evolução da indústria calçadista no Brasil e no mundo, foram desenvolvidos tantos
materiais, cores, modelos e detalhes de sapatos masculinos que chega a ser difícil dizer
qual será a nova tendência ou o que vai ficar pra valer nos pés do homem moderno nos
próximos anos. Por outro lado, essa variedade permite um leque de possibilidades e
combinações para todos os estilos e personalidades que extrapolam a criatividade – de
calça social tradicional a jeans, de calças de sarja a bermudas, modelos para calçar com
ou sem meias, bicolores, monocromáticos ou multicolores, com solado de couro, tratorado
ou de borracha lisa...
A verdade é que os sapatos possuem um grande poder de influência na moda, na cultura e
até na definição do caráter masculino. Portanto, meu amigo, na hora que você for se
vestir amanhã, escolha com carinho o seu pisante.
Toque pessoal
Um único par de sapatos pode passar por até 2.000 mãos no processo de produção
na fábrica, o que garante que cada par seja único. Assista
Sapatos bizarros
Surpreenda-se com uma pequena amostra do que designers e projetistas de sapatos
já imaginaram ara cobrir os pés do homem
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